15 de maio de 2011

Agora


Ele abre uma caixa velha. O bolor nos cantos e o cheiro de mofo. Quadrada. Discreta. Silenciosa.

Dentro remexe lentamente os papéis, olha antigas fotos, encontra bilhetes preciosos. Não segura o suspiro, não contém o espanto. As sobrancelhas acusam o leve desespero de rever imagens tão antigas. Não acredita em reencarnação, mas ali diante dele toca uma ciranda de uma outra vida.

Um carrossel de emoções, no giro espetacular que só a vida dá. Numa volta tudo muda. Muda de lugar, de direção, o sentido da existência num outro caminho que percorria. As mesmas placas apontam os velhos lugares, mas o fôlego não deixa partilhar nem mais um curto passo.

Abre um sorriso, por um momento lembra que naquele dia o sol aquecia, bem diferente do que hoje, mas acalentava sua alma, fria e solitária.

O telefone toca, anunciando um novo contato. Ele aguarda. Um, dois, três, quatro toques e a secretária toma partido da situação. A voz dela ecoa e num choro miúdo declara. Se esvai em prantos. Denuncia, acusa, difama, na voz chorosa canta a canção dos perdedores. Perdeu o amor, a fé e a coragem. Não dá mais, não me procure. Eu vou embora. Pra sempre.

Ele encara as recordações. Elas devolvem num pacote escuro e pardo o silêncio. Ele sorri pelo que viveu e deixa as coisas num canto. Pra que não se percam, mas também não fiquem a vista.

Abre um novo álbum e encara o livro vazio.



Estou pronto pro novo. Estou pronto pro agora.