23 de setembro de 2010

Volúpia


Eu te tomo em meus braços, seu corpo quente e ardente. Antes mesmo do toque eu via por debaixo da sua pele, eu corria nas suas veias e pulsava dentro do teu coração.
Eu me visto com tua carne, eu me encerro dentro de ti. Tão junto quanto tuas coxas coladas, fingindo não querer que eu chegasse mais fundo. Não abrindo o caminho pro meu corpo, mas me arranhando as costas mais fundo que a sua consciência.

Nossa respiração está sincronizada, o seu hálito atravessando meus pulmões. Os olhos semi-cerrados, a boca entreaberta. Um toque nos dedos. Um abraço. E os gemidos das nossas confissões.

A distância do tempo. A distância dos dias. Casas, prédios, carros e pessoas. Tantas coisas entre a gente. Tantas coisas bagunçadas no quarto. Mas o caminho pro teu corpo eu sempre encontro. Eu me guio pelo teu cheiro. O cheiro de sexo que me atiça no cio da nossa paixão mais pervertida.

As máscaras caem, eu enxergo o teu âmago, pedindo mais de mim, pedindo meu gozo. Eu atravesso a noite mais íntima chafurdando na lama da nossa lascívia, me envolvendo eu teu lençol mais obsceno. Eu fecho as cortinas e abro suas pernas.

Eu fecho os olhos e abro tua boca. Eu não falo mais nada e só escuto o seu grito. De prazer. De loucura. De ambição. Você quer mais. Sempre mais de mim. Não inteiro, mas em fatias fantasiadas pedaço por pedaço num caleidoscópio erótico.

Eu bebo sua saliva, eu me lambuzo com teu suor. Me penduro em seu cabelo e me aventuro na escuridão. Eu me descubro à luz clara, acessa enquanto nos olhamos no espelho. Encaixados e em movimento. No banho que tira nossa libertinagem. A água molhando nosso desespero de nosso último momento.

Tudo começa rápido, tudo é instantâneo. Explosivo. Rápido. Um rompante e o desejo corroendo como ácido nossa carne.

É sempre o último instante. O último encontro. A última noite.
Tudo tão intenso, selvagem e chocante. Aguardando uma próxima vez.

14 de setembro de 2010

Sorriso roubado



Sabe quando você está andando por aí, meio à toa, num ritmo lento e olhando para os lados? Assoviando um canção boba, daquelas que grudam no compasso do pensamento. Batucando o ritmo nas coxas enquanto olha o movimento e imaginando que o mundo as vezes podia passar em slow-motion. Bem devagar.

Aí então, eis que aparece, feito um reflexo no pára-brisa de um carro. Me ferindo os olhos e chamando minha atenção. É o seu corpo, o seu jeito e o seu cheiro. Invadindo o tráfego na contra-mão e batendo no meu corpo inerte. Lançando minha alma a mais de 20 metros do lugar, pra me estatelar numa parede chapiscada e pixada com um eu te amo velho e desbotado.

Eu resolvi ficar na cidade, me adaptar ao meu cotidiano já rotineiro. mas que agora me estranhava mais que uma farpa por baixo da unha. Você não estava mais nele. Era tudo igual, mas era tudo diferente.

Mesmo assim sua viagem já apontava no meu GPS quilômetros de distância, de saudades, de desencontros. Do velho "eu não quero mais saber".

Bastou um "oi", um abraço, um toque. E você voltou como um míssil atingindo o vilarejo chamado meu cotidiano. Explodindo meus amigos, meus sonhos e pensamentos.

O sentimento que uma vez senti era de ter perdido algo, por distração minha. Mas o que me invade agora é a sensação de que fui assaltado. E a marginal dessa vez era um rosto muito conhecido, com um sorriso bobo que eu conheço bem. Você.

7 de setembro de 2010

Seu toque

Estou com pressa, muita pressa. Andando atropelado, deslocado, meio torto, feito menino bobo. Meio de lado, com o boné virado. Percebo o meu atropelo. Coloco as mãos no bolso, jogo o boné fora. Consulto a hora, coloco meu melhor casaco. Pra me proteger do frio, pra me proteger do teu calor, pra ficar mais bonito e causar o teu rubor.

Olho pros lados enquanto ando pela calçada. Olho as vitrines mas não me interessa os preços. O valor está no reflexo do vidro. No instante que vejo meu olhar refletir sozinho, dentro de um tempo que envelhece feito vinho. Cada minuto que passa aproximando a hora de te ver, melhorando o meu astral, bem mais do que o guia da TV.

Jogo a moeda pra cima, duas caras, duas coroas, tanto faz. Tanto fez. O valor disso está no momento, e no final das contas, no que a gente faz. Um encontro, uma música. Tanta coisa pode acontecer dentro da melodia. É na música que eu consigo lembrar do teu toque.

Brincando com o gelo da bebida, escrevendo na minha pele o teu nome. Arrepiando o meu corpo com um gesto simples, mexendo com os sentimentos do que me faz homem. Tocando, sentindo, mexendo comigo. Chega na minha sala, senta na poltrona e se espalha tomando conta do meu ninho.

Não me toquei que o teu toque pudesse me tocar tanto. E a canção toca enquanto escrevo, no meu canto...