14 de setembro de 2010

Sorriso roubado



Sabe quando você está andando por aí, meio à toa, num ritmo lento e olhando para os lados? Assoviando um canção boba, daquelas que grudam no compasso do pensamento. Batucando o ritmo nas coxas enquanto olha o movimento e imaginando que o mundo as vezes podia passar em slow-motion. Bem devagar.

Aí então, eis que aparece, feito um reflexo no pára-brisa de um carro. Me ferindo os olhos e chamando minha atenção. É o seu corpo, o seu jeito e o seu cheiro. Invadindo o tráfego na contra-mão e batendo no meu corpo inerte. Lançando minha alma a mais de 20 metros do lugar, pra me estatelar numa parede chapiscada e pixada com um eu te amo velho e desbotado.

Eu resolvi ficar na cidade, me adaptar ao meu cotidiano já rotineiro. mas que agora me estranhava mais que uma farpa por baixo da unha. Você não estava mais nele. Era tudo igual, mas era tudo diferente.

Mesmo assim sua viagem já apontava no meu GPS quilômetros de distância, de saudades, de desencontros. Do velho "eu não quero mais saber".

Bastou um "oi", um abraço, um toque. E você voltou como um míssil atingindo o vilarejo chamado meu cotidiano. Explodindo meus amigos, meus sonhos e pensamentos.

O sentimento que uma vez senti era de ter perdido algo, por distração minha. Mas o que me invade agora é a sensação de que fui assaltado. E a marginal dessa vez era um rosto muito conhecido, com um sorriso bobo que eu conheço bem. Você.

2 comentários:

  1. Lindo, lindo!
    Adorei, Léo! Uma forma um pouco diferente da sua habitual, mas tão encantadora quanto.

    Beijos!
    Ana

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  2. Escreve, como poucos, aquilo que sinto ou um dia senti. Desconfio de que o Leo tenha, sei lá, visão raio-X. Se não for assim, como é possível que entre tão fundo na noss'alma e descreva tão claramente o que se passa em nossos corações?

    Como sempre, texto perfeito. Narrativa gostosa, e que gera empatia instantânea. Parabéns!

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