14 de maio de 2010

Alergia




Eu tenho alergia de você. Chego em casa e olho as marcas nas costas da mão. Está vermelha, em carne viva, em brasa, nas marcas de dois corpos em chamas.
Marcas e labaredas na cama.

Eu tenho alergia de você. E eu espirro desculpas esfarrapadas, coço ligeiro a pele querendo tirar o arrepio. E estremeço ao toque da seda, da tua blusa, do teu abraço.
Enquanto você está nua, deitada sobre meu braço.

Eu tenho alergia de você, mas ainda sinto alegria em te ver. E no compasso destas duas condições eu me equilibro na minha contradição,armando aquele sorriso meia lua, parecido com o algodão doce que eu te comprei na rua.
Naquele dia que você caiu na minha.

E vejo agora a foto em que você está sozinha.

Um beijo, um abraço, ainda estou contigo, escondido no teu afago.
Qualquer dia eu me desfaço de todo esse acaso, e finalmente me caso.

Pode ser com você, pode ser contra você, juntos e separados.
Por mais que eu me engane, ainda estamos apaixonados.

3 de maio de 2010

Uma coisa que escrevi no caderno




O peso do ferro amassado, estragado, enfiado em meu peito.
O amor, o frio, e o gelo na espinha depois da queda no abismo.
Você não tem mais asas, não tem mais força pra nadar.
É um soco no espelho e o estilhaço quebrado que vai me cortar.
A água gelada escorrendo, o rio de lembranças veio me lavar.
Ninguém reconhece meu grito, o eco não está nessa sala.
Está dentro, bem fundo e perdido, nem a brasa do fogo faz se encontrar.
A azia dissolvendo o meu riso, a última esperança eu lancei e o que peguei de volta no ar foi essa lágrima que pintei.
Descubro no passado, você me abandonou completamente sozinho sem piedade e sem remorso, sequer olhou pra trás. Não significa mais nada, sou uma interrogação que você não quer mais solucionar.
Nada.
Nada.
Nada.
Nada faz voltar.
E eu não tenho mais o que fazer.