26 de novembro de 2010

Bytes e Madrugadas


Me vejo parado perto da beira de um lago límpido. Seu azul é profundo, tão profundo quanto a cor dos seus olhos. O vento me traz a brisa de um sorriso e tudo que tenho são quilômetros de desvantagem.


Nos entendemos de uma forma tão sutil e eu não entendo como certas coisas acontecem. A ampulheta do tempo marcando um compasso sem ritmo e eu contando as horas pra saber de você. Frases tão simples explicam pro meu coração que nem tudo são decepções. Que por trás das novas descobertas estão novos mistérios, tão doces e delicados quanto a tua timidez.

Quero puxar a cortina da sala e deixar o sol entrar. Não quero respirar o ar infestado de ácaros de amores não correspondidos. Não quero mais tocar os LP´s antigos de recordações doloras. A vitrola é vela e meu computador está fervendo. Meu modem só disca para sua casa, é o único caminho que minhas coordenadas físicas ou virtuais procuram. Tudo porque você está do outro lado.

Conecto meus pensamentos em uma outra cena e mando um email com uma declaração gostosa. Bytes de informação repletas de sentimento. No assunto eu apenas dedico minhas verdades:

Quero você.

9 de novembro de 2010

Despertar


Acordei de um pesadelo. E não foi com despertador, não foi com gente gritando na porta e nem a roçadeira no vizinho gritando um mau educado bom dia. A chuva parou e eu abri os olhos.
Bocejei um alívio de dez anos perdidos, um alívio de dez anos vividos e dez dilúvios chorados por meus olhos. Me espreguicei pois a preguiça jazia morta e vazia nas entranhas da minha solidão, eu estava me movendo e vivo, levantando da cama e sorrindo.

O café estava pronto e me convidou a sair do meu quarto, enquanto eu andava pela casa reconhecia que não me conhecia mais tanto. Parecia que eu visitava um lugar desconhecido, mas eu era abraçado pelo meu conforto. Percebi que voltei a ter carinho pelo meu ninho e que eu estava feliz comigo mesmo por ser simplesmente eu. Não por arrogância ou egolatria, era eu mesmo pois estava vivendo para mim.

Olhei na agenda para ver quantas festas eu tinha perdido, quantas viagens desmarcadas e quantos amigos esquecidos. Jantares, almoços, cinemas, pedaços de mim frios pela sombra do cativeiro. Havia me sequestrado por um amor antigo e tentava conseguir meu pagamento pelo resgate. E a minha liberdade custava tão pouco. Um gesto singelo, um sorriso e uma conversa e eu estava livre.

Andei pela calçada me acostumando com o abraço do sol, o calor esquentando minha alma mas ainda escaldado pelo frio da solidão. Uma gota caiu de um ipê nas minhas costas por dentro da camisa. Eu ainda me lembraria das marcas, não conseguia correr pela cidade, minha euforia contida. Apesar de eu ver ao longe algo tão bonito, que me chamava e pedia um abraço, meus pés ainda estavam dormentes e o rosto inchado pelo veneno.

Que horas são? Não tinha mais noção do tempo, e só queria ficar mais um tempo contemplando aquela visão. Olhos tão claros em que eu podia me perder como num lago límpido, um sorriso tão arrebatador que sentia invadir minha alma e a distância no meio. Uma ponte, uma escada, um abismo que eu não podia pular. Não ainda.

Apenas a chance de poder sonhar me deixava feliz.

Eu estou vivo.

8 de novembro de 2010

Tão pouco

Estou cansado.

Eu lutei tanto, eu insisti tanto, até a saliva da minha boca secar, até os olhos cegarem e os joelhos dobrados quebrarem. Fui até os confins do inferno e entreguei meu ego ao diabo, negociei minha rendição e vendi meu orgulho, busquei a redenção e salvação, tudo por um motivo estúpido.

Fui um estúpido.

Nada que eu fizesse faria você voltar. Nada que eu fizesse faria eu esquecer. Nada que eu fizesse desataria o nó dessa encruzilhada. Naquele dia que eu te encontrei, no dia que nossos caminhos se cruzaram.

Você foi embora, não é a mesma nem por dentro e nem por fora.

Tudo que eu fui ao seu lado, todas as coisas boas que eu me tornei, tudo foi jogado fora. É como se eu tivesse perdido a pele em queimaduras de 3º grau quando você mostrou quem realmente era.
A decepção me tirou a roupa e me deixou nu, e eu me sinto agora envergonhado por você.

Vergonha de ter compartilhado segredos, de ter confidenciado desejos e unidos sonhos. Vergonha de ter deixado parte de quem eu era pra trás e agora não resgatar mais minha vida. Vergonha de ter andado ao lado de alguém que hoje só me traz essa mesma vergonha.

Tudo que eu queria era apagar tudo isso, não ter vivido nada do seu lado seria mais brando do que ter a liberdade vazia de uma decepção tão amarga. Eu não sinto mais amor por você, eu não sinto mais raiva de você. Nem nojo. Apenas pena.

Pena por ter perdido tanto tempo por tão pouco.