10 de novembro de 2011

Cúmplices



As vezes, quando a gente anda muito tempo sozinho, pensamos que nada vai ser como antes. Não importa que você tente colar os pedaços quebrados do porta-retrato, ele sempre vai estar meio de lado em cima da mesa.

A gente passa a vida tentando se convencer de que não precisa mais daquilo que um dia viveu. Que um dia serviu de alimento. Quem um dia vestiu pra se aquecer num dia úmido e frio. Que já serviu até pra dar mais gosto no café.

Mas a vida é mais que uma cilada armada. Bem mais do que uma armadilha marota na encruzilhada. E nos mostra um sorriso onde antes só havia calafrio. Daí então as cartas deixam de cantar velhas saudades e passam a ser testemunhas de uma nova cena de amor febril.

Todo lugar vira confessionário. Na esquina, na calçada, nas escadas no caminho do seu apartamento, até debaixo do cobertor é momento pra se contar mais uma poesia.

Você descobre que o relógio acelera tanto quanto o seu coração quando se encontram e que um abraço passa a fazer muito mais sentido. Unindo os braços, o coração no compasso do passo, de dois amigos cúmplices lado a lado.

Quando vi que queria você já era tarde, era mais que paixão. Era amizade, era amor, era nós dois conversando sobre a nossa felicidade.

18 de setembro de 2011

As razões do meu amor



Eu descobri que te amo quando percebi que o tempo passa muito mais rápido quando estou do teu lado.

E descobri que meu sorriso se mostra mais verdadeiro quando estou contigo. Que a gente ri um do outro sem ironia. E a gente sabe o que o outro pensa, porque pensa parecido.

Descobri que o teu abraço é o lugar mais quentinho e confortável do mundo. E que as músicas de amor fazem muito mais sentido quando eu estou contigo.

Descobri que faltava uma parte em mim, porque depois que você chegou eu me sinto muito mais completo. E descobri que eu posso viver sem você, mas que contigo o mundo é muito melhor. E o bom é que você não quer ir embora de mim, nem eu de você.

E descobri que o amor chegou e eu nem senti, porque eu estava muito distraído prestando atenção em nós dois.

8 de agosto de 2011

Eterna viagem

Nossa vida é uma eterna viagem, sempre em frente, numa estrada sem fim. Sem começo e sem meio.



Eu não carrego o que não me convém. As tristezas eu deixo de lado, os fracassos deixo pra trás. Minha bagagem não tem espaço pro medo, eu só carrego o que me deixa contente.
Me contento e não me contenho. Só carrego o amor e um pedaço de papel.

Nele tem o endereço daquela moça, com seu singelo sorriso a me receber na porta de casa. Com cheiro de bolo na cozinha e um abraço tão quente quanto o coração que me tira do inverno.

Nada mais me contenta do que aquele abraço. E eu carrego sempre na memória a recordação dela deitada em meu colo, enquanto embalo seus sonhos numa noite de domingo.

O amor me acompanha nessa estrada, nessa eterna viagem. E não temos pressa, porque o verdadeiro amor não corre, ele se constrói aos poucos, dentro do nosso dia a dia.

Estou andando. Sempre em frente. Com o endereço do amor no meu bolso e um sorriso no coração.

19 de junho de 2011

Coração confesso

Ei, coração, onde está você?

Debaixo da cama, escondido com medo da luz? Me conte o que há de errado e eu vou te entender.

Ei, coração, que bate em meu peito num ritmo lento. Me diga, o que há de errado? A porta emperrou ou foi você que trancou? Parece um menino acuado, com medo da bronca, fazendo hora na rua pra não chegar em casa e encarar os olhos dos pais.

Eu vou te limpar, eu vou lavar o seu rosto e enxugar as lágrimas. Nós que sempre fomos um. Nós que sempre aguentamos a verdade. Toda a sinceridade absurda dos dias mais cínicos. Toda a ferocidade da capa do jornal de domingo, dizendo que o amor morreu.

Hoje é domingo e de amanhã já não sei.

15 de maio de 2011

Agora


Ele abre uma caixa velha. O bolor nos cantos e o cheiro de mofo. Quadrada. Discreta. Silenciosa.

Dentro remexe lentamente os papéis, olha antigas fotos, encontra bilhetes preciosos. Não segura o suspiro, não contém o espanto. As sobrancelhas acusam o leve desespero de rever imagens tão antigas. Não acredita em reencarnação, mas ali diante dele toca uma ciranda de uma outra vida.

Um carrossel de emoções, no giro espetacular que só a vida dá. Numa volta tudo muda. Muda de lugar, de direção, o sentido da existência num outro caminho que percorria. As mesmas placas apontam os velhos lugares, mas o fôlego não deixa partilhar nem mais um curto passo.

Abre um sorriso, por um momento lembra que naquele dia o sol aquecia, bem diferente do que hoje, mas acalentava sua alma, fria e solitária.

O telefone toca, anunciando um novo contato. Ele aguarda. Um, dois, três, quatro toques e a secretária toma partido da situação. A voz dela ecoa e num choro miúdo declara. Se esvai em prantos. Denuncia, acusa, difama, na voz chorosa canta a canção dos perdedores. Perdeu o amor, a fé e a coragem. Não dá mais, não me procure. Eu vou embora. Pra sempre.

Ele encara as recordações. Elas devolvem num pacote escuro e pardo o silêncio. Ele sorri pelo que viveu e deixa as coisas num canto. Pra que não se percam, mas também não fiquem a vista.

Abre um novo álbum e encara o livro vazio.



Estou pronto pro novo. Estou pronto pro agora.

17 de fevereiro de 2011

Labirintos



O que me faz prender o ar, perder a respiração, ter arritmia e não conseguir controlar as mãos, é sempre esse seu jeito de sorrir meio de lado. Me olha de canto, mesmo me vendo por inteiro. E no embalo do abraço encontra o aconchego que eu nunca tiro do bolso.

Você passeia dentro de mim, aparece entre os arbustos me chamando, entre cavernas soterradas, por dentro das jaulas fechadas. Invade a sala, quarto e jardim. Às vezes leva minhas flores e em outras me rouba um beijo. Corre como menina levada se escondendo nos meus sonhos.

Mas quando acordo você não está mais ali.

Me sinto perdido. Me acho e me divido. Sou um que soma dois. Um antagonismo precioso, extremos opostos que se interligam num círculo vicioso sem fim. É riso e choro, drama e comédia, tudo assim.

E a mesma chave que abre é a que fecha. Somos dois labirintos que se encaixam como peças perfeitas de um relicário antigo.

26 de novembro de 2010

Bytes e Madrugadas


Me vejo parado perto da beira de um lago límpido. Seu azul é profundo, tão profundo quanto a cor dos seus olhos. O vento me traz a brisa de um sorriso e tudo que tenho são quilômetros de desvantagem.


Nos entendemos de uma forma tão sutil e eu não entendo como certas coisas acontecem. A ampulheta do tempo marcando um compasso sem ritmo e eu contando as horas pra saber de você. Frases tão simples explicam pro meu coração que nem tudo são decepções. Que por trás das novas descobertas estão novos mistérios, tão doces e delicados quanto a tua timidez.

Quero puxar a cortina da sala e deixar o sol entrar. Não quero respirar o ar infestado de ácaros de amores não correspondidos. Não quero mais tocar os LP´s antigos de recordações doloras. A vitrola é vela e meu computador está fervendo. Meu modem só disca para sua casa, é o único caminho que minhas coordenadas físicas ou virtuais procuram. Tudo porque você está do outro lado.

Conecto meus pensamentos em uma outra cena e mando um email com uma declaração gostosa. Bytes de informação repletas de sentimento. No assunto eu apenas dedico minhas verdades:

Quero você.

9 de novembro de 2010

Despertar


Acordei de um pesadelo. E não foi com despertador, não foi com gente gritando na porta e nem a roçadeira no vizinho gritando um mau educado bom dia. A chuva parou e eu abri os olhos.
Bocejei um alívio de dez anos perdidos, um alívio de dez anos vividos e dez dilúvios chorados por meus olhos. Me espreguicei pois a preguiça jazia morta e vazia nas entranhas da minha solidão, eu estava me movendo e vivo, levantando da cama e sorrindo.

O café estava pronto e me convidou a sair do meu quarto, enquanto eu andava pela casa reconhecia que não me conhecia mais tanto. Parecia que eu visitava um lugar desconhecido, mas eu era abraçado pelo meu conforto. Percebi que voltei a ter carinho pelo meu ninho e que eu estava feliz comigo mesmo por ser simplesmente eu. Não por arrogância ou egolatria, era eu mesmo pois estava vivendo para mim.

Olhei na agenda para ver quantas festas eu tinha perdido, quantas viagens desmarcadas e quantos amigos esquecidos. Jantares, almoços, cinemas, pedaços de mim frios pela sombra do cativeiro. Havia me sequestrado por um amor antigo e tentava conseguir meu pagamento pelo resgate. E a minha liberdade custava tão pouco. Um gesto singelo, um sorriso e uma conversa e eu estava livre.

Andei pela calçada me acostumando com o abraço do sol, o calor esquentando minha alma mas ainda escaldado pelo frio da solidão. Uma gota caiu de um ipê nas minhas costas por dentro da camisa. Eu ainda me lembraria das marcas, não conseguia correr pela cidade, minha euforia contida. Apesar de eu ver ao longe algo tão bonito, que me chamava e pedia um abraço, meus pés ainda estavam dormentes e o rosto inchado pelo veneno.

Que horas são? Não tinha mais noção do tempo, e só queria ficar mais um tempo contemplando aquela visão. Olhos tão claros em que eu podia me perder como num lago límpido, um sorriso tão arrebatador que sentia invadir minha alma e a distância no meio. Uma ponte, uma escada, um abismo que eu não podia pular. Não ainda.

Apenas a chance de poder sonhar me deixava feliz.

Eu estou vivo.

8 de novembro de 2010

Tão pouco

Estou cansado.

Eu lutei tanto, eu insisti tanto, até a saliva da minha boca secar, até os olhos cegarem e os joelhos dobrados quebrarem. Fui até os confins do inferno e entreguei meu ego ao diabo, negociei minha rendição e vendi meu orgulho, busquei a redenção e salvação, tudo por um motivo estúpido.

Fui um estúpido.

Nada que eu fizesse faria você voltar. Nada que eu fizesse faria eu esquecer. Nada que eu fizesse desataria o nó dessa encruzilhada. Naquele dia que eu te encontrei, no dia que nossos caminhos se cruzaram.

Você foi embora, não é a mesma nem por dentro e nem por fora.

Tudo que eu fui ao seu lado, todas as coisas boas que eu me tornei, tudo foi jogado fora. É como se eu tivesse perdido a pele em queimaduras de 3º grau quando você mostrou quem realmente era.
A decepção me tirou a roupa e me deixou nu, e eu me sinto agora envergonhado por você.

Vergonha de ter compartilhado segredos, de ter confidenciado desejos e unidos sonhos. Vergonha de ter deixado parte de quem eu era pra trás e agora não resgatar mais minha vida. Vergonha de ter andado ao lado de alguém que hoje só me traz essa mesma vergonha.

Tudo que eu queria era apagar tudo isso, não ter vivido nada do seu lado seria mais brando do que ter a liberdade vazia de uma decepção tão amarga. Eu não sinto mais amor por você, eu não sinto mais raiva de você. Nem nojo. Apenas pena.

Pena por ter perdido tanto tempo por tão pouco.

24 de outubro de 2010

21

Hoje dia 21.

Essa data representa tanta coisa, não é um dia como qualquer outro. Sempre me lembrando de um pacto que foi selado e já foi quebrado. Um ciclo que começou mas ficou aberto, com um desfecho triste, mesmo com as histórias boas na memória.

Mas não vim para contar as tristezas do meu peito, nem falar sobre as tempestades que atormentam minha alma. Vim para falar de novos amanheceres e reger as sinfonias de novas canções nos cantos dos pássaros.

O dia se descortina e o sol me dá bom dia, eu lembro do momento na beira da praia ouvindo o som do mar rolar. Lembro do teu toque e do teu cheiro, mas o que não sai da minha cabeça é o som da tua voz e o eco da tua risada nas minhas cócegas.

Eu ainda sei e acredito que o nosso amor é novo, é o velho amor ainda e sempre. E fico com medo da noite, quando não sei onde você está. E não posso descarregar as conquistas do meu dia, cada uma como uma bala numa metralhadora, acertando em cheio o alvo dos meus objetivos. Não posso marcar a lista das coisas que vamos fazer do nosso futuro. Não posso te ligar porque você perdeu o celular. Mas o que dá mais medo é não saber se você volta. Não diga que você não volta, eu não vou conseguir dormir.

Eu sempre exagero, na minha alegria, na minha tristeza e até no meu desespero. Mas eu sempre fui assim, exagerado, jogado aos seus pés, eu sou sempre exagerado. Participo da vida como um ator iniciante, e as vezes como um ator veterano, ensaiando meus passos, sejam eles de dança, de pressa ou pra sair de fininho. Porque tudo faz parte do meu show.

Minha garganta estranha, quando não te vejo. Me vem um desejo doido de gritar, de te chamar, de brigar pra estar com você aqui pertinho de mim. Como um cão sem dono me ponho a ladrar. Eu aprendi a me virar sozinho, mas se eu estou te dando linha é pra poder te aproximar.

O teu amor é uma mentira que a minha vaidade quer, e eu bebo poesias de cego, você não pode ver, não pode sentir o cheiro nem tocar a superfície de cada verso.

Não assumimos quem somos, mas nesta data ninguém nos acusa.Ninguém vai nos perdoar, nosso crime não compensa.