
No momento de tristeza tudo é uma agulha. Tudo é tremor, e não arrepio.
O uivo do vento já não acaricia, apenas sussurra. A angústia é irmã-prima da felicidade que disse que voltava depois de buscar o café, o mesmo café amargo que me queima a garganta e arranha os ouvidos no gemido das horas.
Ela foi e não prometeu voltar, nem deixar a porta aberta, nem deixar a agenda aberta, nem deixar o telefone livre.
O pior do arrastar das horas não é o tempo gasto, o tempo perdido, o tempo passado, são as marcas no chão. O arrastar das correntes, por carregar coisas pesadas pela sala. Eu tentei mudar a mesa de lugar sozinho, mas o piso marcou. Desculpe, meu bem.
Ainda sinto o cheiro do café pelo quarto.
Pela janela o dia de hoje é igual ao daquele nosso dia, só que água não vem do céu, brota dos meus olhos e escorrem pra debaixo da cama. A cama desarrumada, as cartas amassadas, as memórias atrasadas, o livro de nossos dias.
O sabor amargo, o resto de beijo correndo pela boca, querendo acontecer, e o café que não vou tomar do seu lado.
Ainda olho pra porta e não consigo sair, não saio pra rua,não saio na estrada,não saio na chuva, porque a estrada é longa e fria, por enquanto não quero mais me molhar, não quero sair.
Já sou intruso de mim mesmo, por não saber onde estou.
Bonito mesmo... "só que água não vem do céu, brota dos meus olhos..." Lindo, lindo!
ResponderExcluireu sou a Carla, gostei da sua visita e gostei do seu cantinho tbm! Volte sempre, tá? :)
Noossa, Léo!
ResponderExcluirEste texto é simplesmente divino! *-*
Você produz nele umas imagens tão vivas, embora o personagem já não queira viver na plenitude, que prende o leitor também neste quarto, nesta solidão, nesta saudade.
Adorei!
Beijos!
Ana