De toda a tristeza que um dia rondou em meu peito, como um som abafado de uma bronquite, hoje percebo mais leve e são do que nunca, que eu não tive culpa.
A culpa é um fardo muito pesado, que só carrega aquele que antes andava de mãos vazias. Ou de mãos atadas, ou com as mãos feridas. Com as mãos longe do jardim, sem cuidar das flores, com a cabeça cheia de minhocas e o adubo do chão pedindo atenção. O chão seco e árido, onde as flores não cresciam mais, onde não brotavam mais sonhos nem trilhava caminho algum em direção a nada.
Hoje as flores que um dia te dei estão mortas na sala. As pétalas caídas por cima das cartas, o amarelo do papel manchado com a tua lágrima e o borrão da escrita mostrando que tudo agora são vultos. Sombras. Apenas contornos do que um dia fomos nós. Juntos e inseparáveis, num dia que até o destino hesitou em nos separar.
Só me resta o vazio do teu corpo, teu corpo que visto e visito a luxúria. Uma capa, uma casca, um disfarce para as lembranças que retornam quando te vejo. O teu sorriso é oco, a tua fala é rouca, e o teu gênio ruim já não é mais tão malandro. É um teatro e o fantoche deixou os dedos amostra, eu prevejo os movimentos e vejo seus traquejos.
Você conseguiu provar o seu próprio valor em se desvalorizar. E eu não acho ruim, só acho diferente. Apenas diferente eu me sinto também em sentir a diferença.
23 de agosto de 2010
Maldições Abandonadas
O homem forte com sua fraqueza humana clara A chama explosiva na cor da rosa cálida Uma volúpia que não estanca a tua voz e cala Tua fúria insana no teu peito estala
A revolta instantânea no momento de prazer Cego pelas palavras que fizestes tu dizer Pronúncias repletas de promessas a fazer Um coração entregue no final do entardecer
Um vicio brota do teu sorriso tão inocente que surgiu A magia da princesa que te buscou daquele mundo frio O rubor na face do amor que tu sentiu Tomou teu peito e na tua voz explodiu
Lança-te ao vento, entrega teu coração Pra quem fizeste essa nobre e bela canção Alcança de novo tua força, tua emoção E desfaça da tua vida o desespero e a traição
Mergulha no raso lago dessa melodia suave Respira o límpido ar que tão bem te fazes Agarra aquela mulher que tu sabes Reata contigo mesmo e faz as pazes
Tua força não é só assassina das tuas emoções Antigas, frias, o passado das tuas recordações Não há mais sentido nessas decepções Apenas viva a beleza das tuas paixões
Sim, a satisfação se faz presente. Na orgia de dias gastos, de dias arrastados e infelizes, me acordaram com a cantoria de uma procissão notável. Olhei pela janela e vi um batalhão de pessoas. Mesmo que fossem poucos, a cantoria invadia a cidade e despertava o meu viver. Os hinos cantados aos ventos, de peito aberto e com o sorriso no rosto. Era o exército da liberdade, meus queridos amigos me visitavam.
A multidão se espremia entre poucas pessoas. Os abraços se multiplicavam, as gargalhadas disparavam notas cortantes, notas que rompiam meu desespero e afastavam a monotonia do compasso da minha depressão. Era a figura daquele amigo traquinas que despenteava meu cabelo enquanto zoava com a minha cara, desmerecendo meu sofrimento pois conhecia-me tão bem e fazia questão de mostrar como eu era grande, e aquelas coisas malditas, tão pequenas.
Um amigo que acabava com a rotina dos dias tristes me trazendo a lupa e fritando as formigas com os raios do sol, me divertindo com coisas tão pequenas e mostrando como era fácil passar por cima disso tudo. São apenas formigas, não são os monstros com que andei sonhando.
Os amigos que num abraço conseguem aplacar o mundo, que conseguem de forma implacável me tirar da solidão e em alguns minutos ao telefone buscar no fundo do íntimo a minha sincera explosão de risos. Amigos que já estão há muito tempo longe,mas que basta um aperto de mão pra me estender a mão de novo.
Meus amigos e amigas, dos quais conto nos dedos,talvez em apenas uma mão,mas que são tão preciosos que eu os carrego com as duas, e segurando firme, para não perdê-los. Amigas que me escutam na solidão de um carro, na frente de casa, enquanto eu quero partir mas que me seguram apenas com a conversa, esvaziando os pneus e me mantendo distraído dos problemas lá fora.
Amigos e amigas que um dia tive, que ainda tenho e os muitos ou poucos que ainda virão. No final não importa a quantidade, mas a verdade de quem sem eles a vida não teria graça. Como disse o poeta "os amigos são a família que a vida nos permitiu escolher".
Eles estão lá, não tem o seu sangue, não são sua família, mas você não os abandona. Pois a amizade é um amor que nunca morre.
Um brinde aos amigos! Obrigado por aceitarem meus defeitos e verem neles alguma qualidade.
O gelo conforta a minha carne amortecida reveste com sua brutalidade absoluta os meus longos dias Os ventos sussurrantes que cantam a minha dor retorcida revelada se contamina, nas minhas expressões tão vazias
A liberdade está presa há muito tempo em meu coração cordas tão serenas agarram minha alma inflamada Do amor tão bonito só me restou a recordação e a visão do instante que se foi minha amada
Sou eu mesmo apenas uma escultura no escuro um objeto abstrato no caminho,na estrada Sou o garoto perdido do outro lado do muro ou mesmo sozinho aqui, sentado na sua escada
Eu me armo com espadas tão infantis coisas que me fazem sentir mais seguro Pois eu reconheço que são as emoções mais sutis aquelas que me machucam e quebram o meu escudo
Ergo o meu ferrão e armo um ataque mortal tento segurar o seu corpo, injetar meu veneno Desfiro o golpe tão perigoso e fatal mas percebo tarde que não é o momento
Por isso estou onde estou, só não sei como sair sempre volto a este lugar no tempo do passado Queria que você pudesse me fazer sorrir e me lembrar que por você fui amado
Eu não sei o que fazer. Faço o que não sei explicar. Estou preso em um lugar do qual não consigo sair. E é por baixo da minha pele.
Você não gostaria de estar aqui. Não gostaria de sentir o sabor desse licor que corre em meu sangue. Um coquetel de dúvida e certeza, de medo e coragem, de queda e ascensão, um redemoinho cardíaco no meu sistema nervoso. Na verdade, há muito tempo já enfurecido.
Eu não quero cantar somente as dores, eu quero lembrar das vitórias. Mas o peso de cada medalha me traz ao meu corpo o peso do teu. Eu carrego os triunfos dentro da minha retina e nela você está marcada. No canto do meu olho, onde eu não te perco te vista. Mesmo que queira olhar pro lado, lá está você.
Você é a coçeira dentro do ouvido, lá onde eu não posso alcançar. Sussurando arrepios de saudade, marcas de batom que mancharam minha pele como uma tatuagem e o cheiro mais insuportável do teu perfume no meu casaco.
Eu como o seu corpo, eu bebo o seu desprezo, eu lavo a roupa manchada de sangue de mais um encontro traiçoeiro. Meu ralo só bebe os vestígios de nossa liberdade mais imunda.
Pois o meu amor é uma vingança que promete matar a solidão. É uma vingança aos dias vazios. Uma vingança as lágrimas de desespero, uma vingança ao dia que nunca iria chegar.
Uma vingança a minha língua que um dia duvidou do nosso amor.
Eu estou na frente do espelho tentando me encarar, olhando no fundo dos meus olhos. E vejo bem lá no fundo a sinceridade do que eu não queria confessar, entre as frases que balbucio e revisto com raiva. Elas vem maquiadas com a ignorância, com o desprezo por mim mesmo, a raiva de tudo que eu fiz eu mesmo passar. Vem pintada a quatro cores de arrependimentos que refletiram a minha total falta de amor próprio.
O meu amor próprio que esvaziou-se porque eu dei ele todo pra você. Enchi o copo até a borda e o último pingo era veneno. Transborda minha alienação por recusar olhar através da janela um novo dia que já raiou e nem a vergonha faz meus pés se aquecerem.
Eu tomo café sozinho na cozinha lendo as notícias do jornal da semana passada. Fiquei perdido naquele tempo e ainda não voltei desde aquela noite. Onde me dei por inteiro sem papel de presente caro. Onde me dei por falta de convicção de qualquer valor que eu pudesse ter. Me dei na liquidação de um amor raso que não me deu troco de volta. Nenhum centavo de tostão furado.
O amor que me faz de bobo. Entre experiências inexplicáveis, dentro de um filme sem roteiro, onde a ficção não precisa fazer sentido algum. O amor que me coloca as vendas nos olhos e me rodopia no saguão, pra que eu gire e tente acertar o boneco cheio de balas. Eu tento acertar. A esperança é o gosto doce do que virá a ser. Mas eu só consigo sair tonto e pedindo pra vomitar.
Eu brindo as minhas façanhas mais incríveis, das quais eu mesmo admiro, entre os copos de cervejas com os amigos. A cada história eu enfio o dedo na garganta pra contar, pois nada me dá mais ânsia do que pensar nesses velhas histórias. Os amores perdidos não tem brilho nenhum, só deixam o amargor no canto da boca. Nunca deixam o cheiro de rosas, não enquanto elas não murcharem de vez.
E minha casa anda fedendo a jasmin.
Ouvindo, sentado no chão no umbral da portal e vendo o movimento da rua: