5 de agosto de 2010

Amor Marginal


Eu estou na frente do espelho tentando me encarar, olhando no fundo dos meus olhos. E vejo bem lá no fundo a sinceridade do que eu não queria confessar, entre as frases que balbucio e revisto com raiva. Elas vem maquiadas com a ignorância, com o desprezo por mim mesmo, a raiva de tudo que eu fiz eu mesmo passar. Vem pintada a quatro cores de arrependimentos que refletiram a minha total falta de amor próprio.

O meu amor próprio que esvaziou-se porque eu dei ele todo pra você. Enchi o copo até a borda e o último pingo era veneno. Transborda minha alienação por recusar olhar através da janela um novo dia que já raiou e nem a vergonha faz meus pés se aquecerem.

Eu tomo café sozinho na cozinha lendo as notícias do jornal da semana passada. Fiquei perdido naquele tempo e ainda não voltei desde aquela noite. Onde me dei por inteiro sem papel de presente caro. Onde me dei por falta de convicção de qualquer valor que eu pudesse ter. Me dei na liquidação de um amor raso que não me deu troco de volta. Nenhum centavo de tostão furado.

O amor que me faz de bobo. Entre experiências inexplicáveis, dentro de um filme sem roteiro, onde a ficção não precisa fazer sentido algum. O amor que me coloca as vendas nos olhos e me rodopia no saguão, pra que eu gire e tente acertar o boneco cheio de balas. Eu tento acertar. A esperança é o gosto doce do que virá a ser. Mas eu só consigo sair tonto e pedindo pra vomitar.

Eu brindo as minhas façanhas mais incríveis, das quais eu mesmo admiro, entre os copos de cervejas com os amigos. A cada história eu enfio o dedo na garganta pra contar, pois nada me dá mais ânsia do que pensar nesses velhas histórias. Os amores perdidos não tem brilho nenhum, só deixam o amargor no canto da boca. Nunca deixam o cheiro de rosas, não enquanto elas não murcharem de vez.

E minha casa anda fedendo a jasmin.

Ouvindo, sentado no chão no umbral da portal e vendo o movimento da rua:

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