30 de agosto de 2010

Lascívia


De toda a tristeza que um dia rondou em meu peito, como um som abafado de uma bronquite, hoje percebo mais leve e são do que nunca, que eu não tive culpa.

A culpa é um fardo muito pesado, que só carrega aquele que antes andava de mãos vazias. Ou de mãos atadas, ou com as mãos feridas. Com as mãos longe do jardim, sem cuidar das flores, com a cabeça cheia de minhocas e o adubo do chão pedindo atenção. O chão seco e árido, onde as flores não cresciam mais, onde não brotavam mais sonhos nem trilhava caminho algum em direção a nada.

Hoje as flores que um dia te dei estão mortas na sala. As pétalas caídas por cima das cartas, o amarelo do papel manchado com a tua lágrima e o borrão da escrita mostrando que tudo agora são vultos. Sombras. Apenas contornos do que um dia fomos nós. Juntos e inseparáveis, num dia que até o destino hesitou em nos separar.

Só me resta o vazio do teu corpo, teu corpo que visto e visito a luxúria. Uma capa, uma casca, um disfarce para as lembranças que retornam quando te vejo. O teu sorriso é oco, a tua fala é rouca, e o teu gênio ruim já não é mais tão malandro. É um teatro e o fantoche deixou os dedos amostra, eu prevejo os movimentos e vejo seus traquejos.

Você conseguiu provar o seu próprio valor em se desvalorizar. E eu não acho ruim, só acho diferente. Apenas diferente eu me sinto também em sentir a diferença.


5 comentários:

  1. Tenso.
    Mas assim, apesar do adeus, eu diria pra cê fazer o que o Christian Shephard falou pro Jack.

    Let it go.

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  2. Parabéns pelo post cara!

    Muito bom! Me fez ter vontade de voltar a escrever de novo.

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  3. Pensei em escrever, mas vou usar uma onomatopéia:
    *CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP

    (Se alguém não sabe, CLAP CLAP é palmas).

    Parabéns Leo, muito bom post!

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  4. Tristemente lindo!
    Léo pra variar arrasando nos sentimentos mais profundos. *-*
    Adorei, meu querido! Já estava com saudade de seus textos, mesmo quando melancólicos invadem os mais lindos pedaços de nossas almas leitoras.

    Beijos!
    Ana

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