26 de novembro de 2010

Bytes e Madrugadas


Me vejo parado perto da beira de um lago límpido. Seu azul é profundo, tão profundo quanto a cor dos seus olhos. O vento me traz a brisa de um sorriso e tudo que tenho são quilômetros de desvantagem.


Nos entendemos de uma forma tão sutil e eu não entendo como certas coisas acontecem. A ampulheta do tempo marcando um compasso sem ritmo e eu contando as horas pra saber de você. Frases tão simples explicam pro meu coração que nem tudo são decepções. Que por trás das novas descobertas estão novos mistérios, tão doces e delicados quanto a tua timidez.

Quero puxar a cortina da sala e deixar o sol entrar. Não quero respirar o ar infestado de ácaros de amores não correspondidos. Não quero mais tocar os LP´s antigos de recordações doloras. A vitrola é vela e meu computador está fervendo. Meu modem só disca para sua casa, é o único caminho que minhas coordenadas físicas ou virtuais procuram. Tudo porque você está do outro lado.

Conecto meus pensamentos em uma outra cena e mando um email com uma declaração gostosa. Bytes de informação repletas de sentimento. No assunto eu apenas dedico minhas verdades:

Quero você.

9 de novembro de 2010

Despertar


Acordei de um pesadelo. E não foi com despertador, não foi com gente gritando na porta e nem a roçadeira no vizinho gritando um mau educado bom dia. A chuva parou e eu abri os olhos.
Bocejei um alívio de dez anos perdidos, um alívio de dez anos vividos e dez dilúvios chorados por meus olhos. Me espreguicei pois a preguiça jazia morta e vazia nas entranhas da minha solidão, eu estava me movendo e vivo, levantando da cama e sorrindo.

O café estava pronto e me convidou a sair do meu quarto, enquanto eu andava pela casa reconhecia que não me conhecia mais tanto. Parecia que eu visitava um lugar desconhecido, mas eu era abraçado pelo meu conforto. Percebi que voltei a ter carinho pelo meu ninho e que eu estava feliz comigo mesmo por ser simplesmente eu. Não por arrogância ou egolatria, era eu mesmo pois estava vivendo para mim.

Olhei na agenda para ver quantas festas eu tinha perdido, quantas viagens desmarcadas e quantos amigos esquecidos. Jantares, almoços, cinemas, pedaços de mim frios pela sombra do cativeiro. Havia me sequestrado por um amor antigo e tentava conseguir meu pagamento pelo resgate. E a minha liberdade custava tão pouco. Um gesto singelo, um sorriso e uma conversa e eu estava livre.

Andei pela calçada me acostumando com o abraço do sol, o calor esquentando minha alma mas ainda escaldado pelo frio da solidão. Uma gota caiu de um ipê nas minhas costas por dentro da camisa. Eu ainda me lembraria das marcas, não conseguia correr pela cidade, minha euforia contida. Apesar de eu ver ao longe algo tão bonito, que me chamava e pedia um abraço, meus pés ainda estavam dormentes e o rosto inchado pelo veneno.

Que horas são? Não tinha mais noção do tempo, e só queria ficar mais um tempo contemplando aquela visão. Olhos tão claros em que eu podia me perder como num lago límpido, um sorriso tão arrebatador que sentia invadir minha alma e a distância no meio. Uma ponte, uma escada, um abismo que eu não podia pular. Não ainda.

Apenas a chance de poder sonhar me deixava feliz.

Eu estou vivo.

8 de novembro de 2010

Tão pouco

Estou cansado.

Eu lutei tanto, eu insisti tanto, até a saliva da minha boca secar, até os olhos cegarem e os joelhos dobrados quebrarem. Fui até os confins do inferno e entreguei meu ego ao diabo, negociei minha rendição e vendi meu orgulho, busquei a redenção e salvação, tudo por um motivo estúpido.

Fui um estúpido.

Nada que eu fizesse faria você voltar. Nada que eu fizesse faria eu esquecer. Nada que eu fizesse desataria o nó dessa encruzilhada. Naquele dia que eu te encontrei, no dia que nossos caminhos se cruzaram.

Você foi embora, não é a mesma nem por dentro e nem por fora.

Tudo que eu fui ao seu lado, todas as coisas boas que eu me tornei, tudo foi jogado fora. É como se eu tivesse perdido a pele em queimaduras de 3º grau quando você mostrou quem realmente era.
A decepção me tirou a roupa e me deixou nu, e eu me sinto agora envergonhado por você.

Vergonha de ter compartilhado segredos, de ter confidenciado desejos e unidos sonhos. Vergonha de ter deixado parte de quem eu era pra trás e agora não resgatar mais minha vida. Vergonha de ter andado ao lado de alguém que hoje só me traz essa mesma vergonha.

Tudo que eu queria era apagar tudo isso, não ter vivido nada do seu lado seria mais brando do que ter a liberdade vazia de uma decepção tão amarga. Eu não sinto mais amor por você, eu não sinto mais raiva de você. Nem nojo. Apenas pena.

Pena por ter perdido tanto tempo por tão pouco.

24 de outubro de 2010

21

Hoje dia 21.

Essa data representa tanta coisa, não é um dia como qualquer outro. Sempre me lembrando de um pacto que foi selado e já foi quebrado. Um ciclo que começou mas ficou aberto, com um desfecho triste, mesmo com as histórias boas na memória.

Mas não vim para contar as tristezas do meu peito, nem falar sobre as tempestades que atormentam minha alma. Vim para falar de novos amanheceres e reger as sinfonias de novas canções nos cantos dos pássaros.

O dia se descortina e o sol me dá bom dia, eu lembro do momento na beira da praia ouvindo o som do mar rolar. Lembro do teu toque e do teu cheiro, mas o que não sai da minha cabeça é o som da tua voz e o eco da tua risada nas minhas cócegas.

Eu ainda sei e acredito que o nosso amor é novo, é o velho amor ainda e sempre. E fico com medo da noite, quando não sei onde você está. E não posso descarregar as conquistas do meu dia, cada uma como uma bala numa metralhadora, acertando em cheio o alvo dos meus objetivos. Não posso marcar a lista das coisas que vamos fazer do nosso futuro. Não posso te ligar porque você perdeu o celular. Mas o que dá mais medo é não saber se você volta. Não diga que você não volta, eu não vou conseguir dormir.

Eu sempre exagero, na minha alegria, na minha tristeza e até no meu desespero. Mas eu sempre fui assim, exagerado, jogado aos seus pés, eu sou sempre exagerado. Participo da vida como um ator iniciante, e as vezes como um ator veterano, ensaiando meus passos, sejam eles de dança, de pressa ou pra sair de fininho. Porque tudo faz parte do meu show.

Minha garganta estranha, quando não te vejo. Me vem um desejo doido de gritar, de te chamar, de brigar pra estar com você aqui pertinho de mim. Como um cão sem dono me ponho a ladrar. Eu aprendi a me virar sozinho, mas se eu estou te dando linha é pra poder te aproximar.

O teu amor é uma mentira que a minha vaidade quer, e eu bebo poesias de cego, você não pode ver, não pode sentir o cheiro nem tocar a superfície de cada verso.

Não assumimos quem somos, mas nesta data ninguém nos acusa.Ninguém vai nos perdoar, nosso crime não compensa.

23 de setembro de 2010

Volúpia


Eu te tomo em meus braços, seu corpo quente e ardente. Antes mesmo do toque eu via por debaixo da sua pele, eu corria nas suas veias e pulsava dentro do teu coração.
Eu me visto com tua carne, eu me encerro dentro de ti. Tão junto quanto tuas coxas coladas, fingindo não querer que eu chegasse mais fundo. Não abrindo o caminho pro meu corpo, mas me arranhando as costas mais fundo que a sua consciência.

Nossa respiração está sincronizada, o seu hálito atravessando meus pulmões. Os olhos semi-cerrados, a boca entreaberta. Um toque nos dedos. Um abraço. E os gemidos das nossas confissões.

A distância do tempo. A distância dos dias. Casas, prédios, carros e pessoas. Tantas coisas entre a gente. Tantas coisas bagunçadas no quarto. Mas o caminho pro teu corpo eu sempre encontro. Eu me guio pelo teu cheiro. O cheiro de sexo que me atiça no cio da nossa paixão mais pervertida.

As máscaras caem, eu enxergo o teu âmago, pedindo mais de mim, pedindo meu gozo. Eu atravesso a noite mais íntima chafurdando na lama da nossa lascívia, me envolvendo eu teu lençol mais obsceno. Eu fecho as cortinas e abro suas pernas.

Eu fecho os olhos e abro tua boca. Eu não falo mais nada e só escuto o seu grito. De prazer. De loucura. De ambição. Você quer mais. Sempre mais de mim. Não inteiro, mas em fatias fantasiadas pedaço por pedaço num caleidoscópio erótico.

Eu bebo sua saliva, eu me lambuzo com teu suor. Me penduro em seu cabelo e me aventuro na escuridão. Eu me descubro à luz clara, acessa enquanto nos olhamos no espelho. Encaixados e em movimento. No banho que tira nossa libertinagem. A água molhando nosso desespero de nosso último momento.

Tudo começa rápido, tudo é instantâneo. Explosivo. Rápido. Um rompante e o desejo corroendo como ácido nossa carne.

É sempre o último instante. O último encontro. A última noite.
Tudo tão intenso, selvagem e chocante. Aguardando uma próxima vez.

14 de setembro de 2010

Sorriso roubado



Sabe quando você está andando por aí, meio à toa, num ritmo lento e olhando para os lados? Assoviando um canção boba, daquelas que grudam no compasso do pensamento. Batucando o ritmo nas coxas enquanto olha o movimento e imaginando que o mundo as vezes podia passar em slow-motion. Bem devagar.

Aí então, eis que aparece, feito um reflexo no pára-brisa de um carro. Me ferindo os olhos e chamando minha atenção. É o seu corpo, o seu jeito e o seu cheiro. Invadindo o tráfego na contra-mão e batendo no meu corpo inerte. Lançando minha alma a mais de 20 metros do lugar, pra me estatelar numa parede chapiscada e pixada com um eu te amo velho e desbotado.

Eu resolvi ficar na cidade, me adaptar ao meu cotidiano já rotineiro. mas que agora me estranhava mais que uma farpa por baixo da unha. Você não estava mais nele. Era tudo igual, mas era tudo diferente.

Mesmo assim sua viagem já apontava no meu GPS quilômetros de distância, de saudades, de desencontros. Do velho "eu não quero mais saber".

Bastou um "oi", um abraço, um toque. E você voltou como um míssil atingindo o vilarejo chamado meu cotidiano. Explodindo meus amigos, meus sonhos e pensamentos.

O sentimento que uma vez senti era de ter perdido algo, por distração minha. Mas o que me invade agora é a sensação de que fui assaltado. E a marginal dessa vez era um rosto muito conhecido, com um sorriso bobo que eu conheço bem. Você.

7 de setembro de 2010

Seu toque

Estou com pressa, muita pressa. Andando atropelado, deslocado, meio torto, feito menino bobo. Meio de lado, com o boné virado. Percebo o meu atropelo. Coloco as mãos no bolso, jogo o boné fora. Consulto a hora, coloco meu melhor casaco. Pra me proteger do frio, pra me proteger do teu calor, pra ficar mais bonito e causar o teu rubor.

Olho pros lados enquanto ando pela calçada. Olho as vitrines mas não me interessa os preços. O valor está no reflexo do vidro. No instante que vejo meu olhar refletir sozinho, dentro de um tempo que envelhece feito vinho. Cada minuto que passa aproximando a hora de te ver, melhorando o meu astral, bem mais do que o guia da TV.

Jogo a moeda pra cima, duas caras, duas coroas, tanto faz. Tanto fez. O valor disso está no momento, e no final das contas, no que a gente faz. Um encontro, uma música. Tanta coisa pode acontecer dentro da melodia. É na música que eu consigo lembrar do teu toque.

Brincando com o gelo da bebida, escrevendo na minha pele o teu nome. Arrepiando o meu corpo com um gesto simples, mexendo com os sentimentos do que me faz homem. Tocando, sentindo, mexendo comigo. Chega na minha sala, senta na poltrona e se espalha tomando conta do meu ninho.

Não me toquei que o teu toque pudesse me tocar tanto. E a canção toca enquanto escrevo, no meu canto...




30 de agosto de 2010

Lascívia


De toda a tristeza que um dia rondou em meu peito, como um som abafado de uma bronquite, hoje percebo mais leve e são do que nunca, que eu não tive culpa.

A culpa é um fardo muito pesado, que só carrega aquele que antes andava de mãos vazias. Ou de mãos atadas, ou com as mãos feridas. Com as mãos longe do jardim, sem cuidar das flores, com a cabeça cheia de minhocas e o adubo do chão pedindo atenção. O chão seco e árido, onde as flores não cresciam mais, onde não brotavam mais sonhos nem trilhava caminho algum em direção a nada.

Hoje as flores que um dia te dei estão mortas na sala. As pétalas caídas por cima das cartas, o amarelo do papel manchado com a tua lágrima e o borrão da escrita mostrando que tudo agora são vultos. Sombras. Apenas contornos do que um dia fomos nós. Juntos e inseparáveis, num dia que até o destino hesitou em nos separar.

Só me resta o vazio do teu corpo, teu corpo que visto e visito a luxúria. Uma capa, uma casca, um disfarce para as lembranças que retornam quando te vejo. O teu sorriso é oco, a tua fala é rouca, e o teu gênio ruim já não é mais tão malandro. É um teatro e o fantoche deixou os dedos amostra, eu prevejo os movimentos e vejo seus traquejos.

Você conseguiu provar o seu próprio valor em se desvalorizar. E eu não acho ruim, só acho diferente. Apenas diferente eu me sinto também em sentir a diferença.


23 de agosto de 2010


Maldições Abandonadas

O homem forte com sua fraqueza humana clara
A chama explosiva na cor da rosa cálida
Uma volúpia que não estanca a tua voz e cala
Tua fúria insana no teu peito estala

A revolta instantânea no momento de prazer
Cego pelas palavras que fizestes tu dizer
Pronúncias repletas de promessas a fazer
Um coração entregue no final do entardecer

Um vicio brota do teu sorriso tão inocente que surgiu
A magia da princesa que te buscou daquele mundo frio
O rubor na face do amor que tu sentiu
Tomou teu peito e na tua voz explodiu

Lança-te ao vento, entrega teu coração
Pra quem fizeste essa nobre e bela canção
Alcança de novo tua força, tua emoção
E desfaça da tua vida o desespero e a traição

Mergulha no raso lago dessa melodia suave
Respira o límpido ar que tão bem te fazes
Agarra aquela mulher que tu sabes
Reata contigo mesmo e faz as pazes

Tua força não é só assassina das tuas emoções
Antigas, frias, o passado das tuas recordações
Não há mais sentido nessas decepções
Apenas viva a beleza das tuas paixões

Por Leonardo
11/10/05

16 de agosto de 2010

Um brinde aos amigos






Estou satisfeito!

Sim, a satisfação se faz presente. Na orgia de dias gastos, de dias arrastados e infelizes, me acordaram com a cantoria de uma procissão notável. Olhei pela janela e vi um batalhão de pessoas. Mesmo que fossem poucos, a cantoria invadia a cidade e despertava o meu viver. Os hinos cantados aos ventos, de peito aberto e com o sorriso no rosto. Era o exército da liberdade, meus queridos amigos me visitavam.

A multidão se espremia entre poucas pessoas. Os abraços se multiplicavam, as gargalhadas disparavam notas cortantes, notas que rompiam meu desespero e afastavam a monotonia do compasso da minha depressão. Era a figura daquele amigo traquinas que despenteava meu cabelo enquanto zoava com a minha cara, desmerecendo meu sofrimento pois conhecia-me tão bem e fazia questão de mostrar como eu era grande, e aquelas coisas malditas, tão pequenas.

Um amigo que acabava com a rotina dos dias tristes me trazendo a lupa e fritando as formigas com os raios do sol, me divertindo com coisas tão pequenas e mostrando como era fácil passar por cima disso tudo. São apenas formigas, não são os monstros com que andei sonhando.

Os amigos que num abraço conseguem aplacar o mundo, que conseguem de forma implacável me tirar da solidão e em alguns minutos ao telefone buscar no fundo do íntimo a minha sincera explosão de risos. Amigos que já estão há muito tempo longe,mas que basta um aperto de mão pra me estender a mão de novo.

Meus amigos e amigas, dos quais conto nos dedos,talvez em apenas uma mão,mas que são tão preciosos que eu os carrego com as duas, e segurando firme, para não perdê-los.
Amigas que me escutam na solidão de um carro, na frente de casa, enquanto eu quero partir mas que me seguram apenas com a conversa, esvaziando os pneus e me mantendo distraído dos problemas lá fora.

Amigos e amigas que um dia tive, que ainda tenho e os muitos ou poucos que ainda virão. No final não importa a quantidade, mas a verdade de quem sem eles a vida não teria graça. Como disse o poeta "os amigos são a família que a vida nos permitiu escolher".

Eles estão lá, não tem o seu sangue, não são sua família, mas você não os abandona. Pois a amizade é um amor que nunca morre.

Um brinde aos amigos! Obrigado por aceitarem meus defeitos e verem neles alguma qualidade.



Ps: minha singela homenagem a Ligia (@licabilica,) Aninha (@aninhakita) André (@andre_neppel) Joo (@JoseanaBorri) Ahlan, Aline, Leonel e a Débora.

12 de agosto de 2010

Lágrimas do Escorpião


Ouvindo:


Lágrimas do Escorpião

O gelo conforta a minha carne amortecida
reveste com sua brutalidade absoluta os meus longos dias
Os ventos sussurrantes que cantam a minha dor retorcida
revelada se contamina, nas minhas expressões tão vazias

A liberdade está presa há muito tempo em meu coração
cordas tão serenas agarram minha alma inflamada
Do amor tão bonito só me restou a recordação
e a visão do instante que se foi minha amada

Sou eu mesmo apenas uma escultura no escuro
um objeto abstrato no caminho,na estrada
Sou o garoto perdido do outro lado do muro
ou mesmo sozinho aqui, sentado na sua escada

Eu me armo com espadas tão infantis
coisas que me fazem sentir mais seguro
Pois eu reconheço que são as emoções mais sutis
aquelas que me machucam e quebram o meu escudo

Ergo o meu ferrão e armo um ataque mortal
tento segurar o seu corpo, injetar meu veneno
Desfiro o golpe tão perigoso e fatal
mas percebo tarde que não é o momento

Por isso estou onde estou, só não sei como sair
sempre volto a este lugar no tempo do passado
Queria que você pudesse me fazer sorrir
e me lembrar que por você fui amado

Por Leonardo
13/12/2004

9 de agosto de 2010

Meu amor é uma vingança


Eu não sei o que fazer. Faço o que não sei explicar. Estou preso em um lugar do qual não consigo sair. E é por baixo da minha pele.

Você não gostaria de estar aqui. Não gostaria de sentir o sabor desse licor que corre em meu sangue. Um coquetel de dúvida e certeza, de medo e coragem, de queda e ascensão, um redemoinho cardíaco no meu sistema nervoso. Na verdade, há muito tempo já enfurecido.

Eu não quero cantar somente as dores, eu quero lembrar das vitórias. Mas o peso de cada medalha me traz ao meu corpo o peso do teu. Eu carrego os triunfos dentro da minha retina e nela você está marcada. No canto do meu olho, onde eu não te perco te vista. Mesmo que queira olhar pro lado, lá está você.



Você é a coçeira dentro do ouvido, lá onde eu não posso alcançar. Sussurando arrepios de saudade, marcas de batom que mancharam minha pele como uma tatuagem e o cheiro mais insuportável do teu perfume no meu casaco.

Eu como o seu corpo, eu bebo o seu desprezo, eu lavo a roupa manchada de sangue de mais um encontro traiçoeiro. Meu ralo só bebe os vestígios de nossa liberdade mais imunda.

Pois o meu amor é uma vingança que promete matar a solidão. É uma vingança aos dias vazios. Uma vingança as lágrimas de desespero, uma vingança ao dia que nunca iria chegar.

Uma vingança a minha língua que um dia duvidou do nosso amor.

5 de agosto de 2010

Amor Marginal


Eu estou na frente do espelho tentando me encarar, olhando no fundo dos meus olhos. E vejo bem lá no fundo a sinceridade do que eu não queria confessar, entre as frases que balbucio e revisto com raiva. Elas vem maquiadas com a ignorância, com o desprezo por mim mesmo, a raiva de tudo que eu fiz eu mesmo passar. Vem pintada a quatro cores de arrependimentos que refletiram a minha total falta de amor próprio.

O meu amor próprio que esvaziou-se porque eu dei ele todo pra você. Enchi o copo até a borda e o último pingo era veneno. Transborda minha alienação por recusar olhar através da janela um novo dia que já raiou e nem a vergonha faz meus pés se aquecerem.

Eu tomo café sozinho na cozinha lendo as notícias do jornal da semana passada. Fiquei perdido naquele tempo e ainda não voltei desde aquela noite. Onde me dei por inteiro sem papel de presente caro. Onde me dei por falta de convicção de qualquer valor que eu pudesse ter. Me dei na liquidação de um amor raso que não me deu troco de volta. Nenhum centavo de tostão furado.

O amor que me faz de bobo. Entre experiências inexplicáveis, dentro de um filme sem roteiro, onde a ficção não precisa fazer sentido algum. O amor que me coloca as vendas nos olhos e me rodopia no saguão, pra que eu gire e tente acertar o boneco cheio de balas. Eu tento acertar. A esperança é o gosto doce do que virá a ser. Mas eu só consigo sair tonto e pedindo pra vomitar.

Eu brindo as minhas façanhas mais incríveis, das quais eu mesmo admiro, entre os copos de cervejas com os amigos. A cada história eu enfio o dedo na garganta pra contar, pois nada me dá mais ânsia do que pensar nesses velhas histórias. Os amores perdidos não tem brilho nenhum, só deixam o amargor no canto da boca. Nunca deixam o cheiro de rosas, não enquanto elas não murcharem de vez.

E minha casa anda fedendo a jasmin.

Ouvindo, sentado no chão no umbral da portal e vendo o movimento da rua:

30 de julho de 2010

Saudade de casa


Hoje passei o dia refletindo e cheguei a uma séria conclusão.
Quero que você seja feliz.

Ao som de:

Eu já passei tanta coisa ao seu lado, uma história linda, com seus altos e baixos. Mas acima de tudo eu quero ver você feliz. Porque cada vez que eu me aproximo, mesmo tendo que pular um muro enorme e me machucar na queda até chegar em você, quando vejo um sorriso seu o meu mundo se acalma. Os ruídos da guerra se aquietam, até minha alma encontra alguma paz.

Eu já fui responsável por tantas coisas em você, desde uma lágrima amarga e infeliz até as surpresas mais fantásticas, e por isso eu quero que você seja feliz. Na sua escolha, mesmo que não seja comigo, na sua estrada, mesmo que não seja o meu caminho.

Existem tantas coisas pra acontecer, e a vida não vai fazer questão de pegar leve. O que eu posso fazer é apostar minhas fichas, acompanhar o jogo e tentar ser o mais sincero possível. Eu acredito nesse amor, por isso minha prova maior será sobreviver mesmo diante de um sacrifício.

O meu amor é tanto que eu quero o teu sorriso, e não quero roubar a sua vida pra mim. Não posso fazer isso. Não quero, não seria justo.

Então eu fico de lado, olhando a lua, no canto da rua, brincando com pedras no chão esperando você me chamar de volta. Não nego. É aquela velha sensação do fim de tarde, esperando que a voz da mãe chame de volta pra casa porque está na hora do jantar. Na hora de voltar pro aconchego de um abraço apertado, do cheiro do lar.

E eu estou com muita saudade de casa.

28 de julho de 2010

Tudo no seu devido lugar

Resolvi parar meu dia por algumas semanas. Dentro da minha imaginação eu voltei a te ter, e foi como se tudo voltasse a estar no seu devido lugar. Por um momento vou parar essa correria, vou sentir essa sensação, a sensação de estar de volta ao seu lado.
Escolhi essa música para ilustrar o sentimento. Esta vibe maluca desta minha realidade alternativa.


Toque a música e leio o texto, entre nessa sensação.

Eu acordo e sei que posso te ligar. Eu ensaio umas frases bobas, misturando minha timidez com o compasso acelerado do coração, patinando nas idéias feito criança correndo no piso de madeira com as meias largas, escorregando de lado, rindo feliz com a brincadeira.

Eu passo a manteiga no pão imaginando o gesto de nosso abraço quando a gente se joga no colchão. Nossos braços enroscados no corpo do outro, sabendo a sintonia do toque, onde encaixa e desencaixa, desejoso pelo afeto de um afago amoroso. De amor, de amizade, de sexo e de carinho. Tudo no lugar que a gente sempre acha.

Eu combino um passeio surpresa comigo mesmo, te ofereço a surpresa de horas agradáveis, enquanto a gente joga fliperama feito os melhores amigos de um filme chamado "meu primeiro amor". Eu perco no jogo, mas ganho o teu sorriso de moleca, tirando onda com a minha cara.

Te compro aquele chocolate mais gostoso, que é do teu gosto. Te digo pra não se importar com aparência, não quero uma super modelo, eu quero você pra abraçar e me beijar. Se for pra desfilar, que seja na minha sala, no intervalo do programa de domingo, brincando e rindo.

Limpo os teus óculos com o tecido da minha camisa como todo cuidado, porque eu quero que você veja meus olhos quando eu digo o quanto te adoro. Compro pipoca no cinema de sexta, encaro a fila e perco filme, mas não perco a tua satisfação e conforto, curtindo tudo do meu lado.

Mesmo andando de braços dados, de mãos dadas,coração lado a lado. Correndo da chuva, pra não perder o ônibus ou batendo papo em qualquer lugar, o tempo não passa do mesmo jeito quando a gente está junto. O tempo passa e a gente não vê porque está olhando nos olhos do outro.

E nesse sonho me satisfaço imensamente com momentos tão pequenos, vivendo dentro do meu peito as coisas mais maravilhosas. Podem ser as que já foram vividas, mas eu ainda prefiro as que um dia poderei viver de novo, com você.

Dançando ao som dessa música tão gostosa. Tão gostosa quanto a vida é quando compartilho com a pessoa certa.

25 de julho de 2010

Cãimbras


Não é conformismo. Não tenho a pretensão de me conformar, mesmo porque eu teria que me livrar do que sinto até chegar perto desse sentimento.
Conformismo é um sentimento, acredite.

Você já não tem mais fôlego. Há cãimbras nas suas mais profundas memórias. Você tem preguiça de olhar as coisas boas. As dores nos músculos te impedem de correr mais 5 metros e a linha de chegada estava ali na frente. Mesmo que não houvessem prêmios. Mesmo que o prêmio fosse nossos sorrisos, juntos abraçados contando novas histórias. É a fadiga do amor. E quando o outro se cansa, não adianta correr atrás. É o conformismo aflorando como sentimento.

Você já não faz questão de tentar. Não faz mais diferença alimentar os sonhos que tivemos na cumplicidade dos lençóis. As paredes nunca foram testemunhas do amor e nem iriam depôr a favor do nosso caso no julgamento de nossa relação. A única relação que fazemos agora é das coisas que temos que devolver.

Pois o conformismo é um sentimento, agora eu sei. Mas ainda não sinto. Sinto muito.

16 de julho de 2010

A carta que eu nunca entreguei


Trilha sonora para a leitura

Você sabe mais do que ninguém que sempre me dei bem com palavras, principalmente escritas, talvez seja por isso que venho me refugiar nessas linhas. Venho tentar encontrar alguma paz, esvaziar a cabeça. Tenho tido tantos pensamentos indesejáveis ultimamente. Daqueles pensamentos bonitos, bonitos mesmo, mas que só soam bem quando estão nas linhas de canções. Quando a gente escuta o sentimento sem precisar realmente sentir pra saber que ele existe. Melodias melosas, coisa brega, canções de saudade, de desilusão ou amor eterno. Coisa de novela das 8.

Faz tanto tempo que eu não bato um papo decente com você, e eu sinto tanta falta disso. Claro que não é só disso, mas é de passar o tempo do seu lado. Depois desse tempo sozinho eu percebi que eu podia desperdiçar uma vida inteira do seu lado que eu nem ia me dar conta. Não que minha vida seja algo a ser desperdiçado, nem mesmo a sua, mas que se rolasse uma eternidade tipo filmezinho domingo a tarde no DVD e um edredon, formando aquela cena de inverno com a chuva fininha batendo lá fora, juro que eu não ia reclamar nem sentir que tava perdendo alguma coisa.

Não liga não, meus pensamentos andam aleatórios mesmo. Eu me pego vagando, pensando, sem muito rumo. Me sinto desestruturado, abrindo a casa da cabeça pra arejar mas ainda meio atrapalhado com as caixas por toda a casa. Não sei nem por onde começar.

É difícil, tem sido muito difícil pra mim, eu confesso. Droga. Infelizmente eu queria poder te dizer que está tudo muito bem, tudo muito ótimo. Mas não está. E eu ando agoniado, angustiado, triste, sem muita motivação. Tem dias que menos, mas ultimamente mais. É duro esse negócio de tristeza. Coisa chata.

É uma merda ter que admitir, mas não consigo ficar com raiva de você. Não consigo alimentar o ódio que eu tento fazer crescer, pelo menos com ele eu poderia seguir em frente com mais facilidade. É difícil porque eu sinto que tenho que seguir em frente, mas é como se eu carregasse um cadáver nas costas. Um cadáver de um relacionamento passado.

Claro que um dia vai passar, um dia vamos ficar melhores. Um dia eu vou olhar pra trás e dizer que era besteira, que no final foi o melhor. Mas agora eu não tenho coragem de dizer isso. Posso até dizer pros amigos, pra família, pro meu cachorro. Só que na hora que apaga luz, falar isso pra minha própria cabeça seria admitir dupla personalidade. Eu sou meio maluco,mas também não tanto. Não consigo me enganar.

Não há volta, não há reconciliação amorosa, não há beijinhos doces e abraços apertados, nem presente de dia dos namorados ou feriado no cinema. Mas o que diabos eu faço com esse sentimento teimoso (só não é mais teimoso que você, ou melhor, acho que aprendeu foi com você) que está no meu coração? Não só no coração, no estômago, no cérebro, nos dentes, dentro do meu olho, até nas minhas unhas. Nas roupas e músicas, filmes e ruas, poxa, até no meu carro. Não desgruda.

As vezes eu rezo baixinho pra que seja algo junto com você, na minha mente tudo roda como um trailer de cinema. Cores muito vivas, movimentos em câmera lenta, beijo demorado na chuva, aquela música do coldplay tocando na trilha sonora. Coisa linda. Mas eu evito porque tudo se acaba no segundo que eu percebo que essa vida já não é mais minha. E que eu estou é dentro da minha própria vida, onde não há perspectiva pra que isso ocorra. E mais uma vez vem a pancada da realidade.

Fico meio envergonhando porque parece que vim aqui te entregar um pacote de tristeza, e que não tem nada de bom pra eu te dizer. Não queria que fosse uma coisa desagradável, mas infelizmente é como tem sido. Sem firulas, sem floreios, sem tentar esconder o sol com a peneira. É assim que parece, é assim que cheira, é assim que tem sido.

Adeus e desculpe por tudo, por essa carta mau escrita. Essa confissão descontrolada e cheia de tropeços,pelos erros, por ter aparecido assim do nada. Retornarei ao nada em algum pedacinho do seu coração que já não é tão importante.

Adeus.

Devaneios Noturnos



Ele não sabia bem o que buscava, preso e enroscado no seu próprio devaneio. Às vezes mais rápido do que podia querer. Do que podia pensar, do que podia perceber.

A apreensão em cima do seu dia-a-dia, martelando o consciente, na busca por uma brecha. Uma razão vazia, teimosa e vadia. Ele queria achar o porquê. Mas porque não acho a resposta, muitas vezes se perguntava. Ou perguntavam para ele.
Era uma sensação, era como o tambor de uma arma. Vazio. Fulmegante. Dissonante. Em alguma direção ele ia, junto com algo que ele não entendia.


As emoções estão tão marcadas, tão usadas, tão apagadas. Estenda um lençol lavado e você não sabe quem se deitou nele. Abra meu coração e você não vai saber quem deixou ele assim.

Já não sei se é emoção legítima. Já não sei mais nem o que é um sorriso verdadeiro. Aonde está a beleza das cores? É no que vemos, na cor refletida, no tom, no olho, na percepção da imagem? Eu sei que preciso olhar, mas o que vejo ao redor são cinzas. De cigarros, de bombas, de casas queimadas.

Me troque por um champagne. Me troque por uma limusine. Me troque por seu castelo invisível. De dentro da sua torre você é a ditadora do seu próprio reino.

Eu não sou o cara de terno alinhado, o superstar ou o empresário do ano. Não vou lhe dar rosas toda sexta-feira, nem te levar nos melhores motéis do mundo. Não vou te dar jóias caras, nem lindos vestidos. Não vou te dar nem oi quando você passar.

Porque você já passou. Já passou da conta, já deixou de fazer de conta.

14 de julho de 2010

Me encontrar





Deixo-me inundar pela satisfação. Ela vem, muitas vezes, antecipada, pisando levemente o piso do assoalho das minhas aspirações. Tenta não esbarrar na mobília, não deixar com que o toca-disco pule e arranhe o LP, não quer que a música grite estridente e me chame a atenção.

Eu estou relaxado. E por muito tempo estive cansado. Me agarrando forte no cachoalhar do ônibus lotado, esbarrando o corpo inerte de um lado pro outro, entre tantos outros corpos inertes, tantas caras vazias e olhos sem expressão. Ou olhos vazios e caras sem expressão. De qualquer forma, mesmo entre tantos estranhos, e entretanto, me vendo tão claramente nos seus rosto, não é muita gente que desce no mesmo ponto que eu.

Deve ser porque, agora sim, estou no ponto. E num ponto sem volta, onde a chegada me mostra que é o fim. Em que o início se faz novamente, bem na volta, naquela curva molhada de chuva que eu escorreguei de bicicleta. Nesse ciclo em círculo chamado cotidiano.

Eu reparo bem de canto de olho. Eu continuo andando disfarçado na minha própria sombra, assobiando uma música sem melodia pra distrair o susto, e vejo alguém parado no asfalto. Sentada na beira da calçada, com as pernas cruzadas, olhando para as estrelas. Cara de menina, jeito de mulher. A imponência de um sorriso doce rasgando o céu cinza de tom amargo.

Perdida moça? E ela olha pra mim atravessando a minha existência. Me sinto abraçado pela oportunidade do destino e de mãos dadas com a escolha certa. Perguntei se estava perdida, mas na verdade quem precisava se encontrar era eu.

Você gosta de Blues? Ela me diz que prefere Jazz. E no improviso dessa música nos beijamos.


6 de junho de 2010

E quando chega o fim?



Hoje eu me sinto diferente. Como se eu tivesse perdido algo. Aquele frio na barriga quando você percebe que deixou o guarda-chuva no ônibus.
Pára, olha pra trás rapidamente, prende o fôlego e depois,sabe que não adianta correr.
Amanhã eu ligo pra rodoviária. Tento achar. Se não, compro outro.

A noite é fria, como um gemido tremido, balbuciando a verdade. Certas coisas são inevitáveis e hoje eu aprendi isso. Por dor, por indiferença, ou talvez mesmo, sem querer. Inevitável foi a palavra da vez. É e será.

As fotografias já não me remetem fortes lembranças, já não me dizem que tempo foi aquele. Eu perdi a hora do cinema, eu perdi os meus óculos e deixei a torneira aberta.

O meu telefone toca, ao som de um blues. O rock lembra que tem alguém que quer falar comigo, alguém que vai saber, que vai querer conversar. Jogar conversa fora ou guardá-la do lado esquerdo do peito.

Pra tantas escolhas existem caminhos, pra tantos caminhos existe a mesma estrada. Só que dessa vez eu não vou de carona. Prefiro ir a pé, mas chegar quando e onde eu quiser.

Te deixo um abraço, um adeus e um obrigado.

14 de maio de 2010

Alergia




Eu tenho alergia de você. Chego em casa e olho as marcas nas costas da mão. Está vermelha, em carne viva, em brasa, nas marcas de dois corpos em chamas.
Marcas e labaredas na cama.

Eu tenho alergia de você. E eu espirro desculpas esfarrapadas, coço ligeiro a pele querendo tirar o arrepio. E estremeço ao toque da seda, da tua blusa, do teu abraço.
Enquanto você está nua, deitada sobre meu braço.

Eu tenho alergia de você, mas ainda sinto alegria em te ver. E no compasso destas duas condições eu me equilibro na minha contradição,armando aquele sorriso meia lua, parecido com o algodão doce que eu te comprei na rua.
Naquele dia que você caiu na minha.

E vejo agora a foto em que você está sozinha.

Um beijo, um abraço, ainda estou contigo, escondido no teu afago.
Qualquer dia eu me desfaço de todo esse acaso, e finalmente me caso.

Pode ser com você, pode ser contra você, juntos e separados.
Por mais que eu me engane, ainda estamos apaixonados.

3 de maio de 2010

Uma coisa que escrevi no caderno




O peso do ferro amassado, estragado, enfiado em meu peito.
O amor, o frio, e o gelo na espinha depois da queda no abismo.
Você não tem mais asas, não tem mais força pra nadar.
É um soco no espelho e o estilhaço quebrado que vai me cortar.
A água gelada escorrendo, o rio de lembranças veio me lavar.
Ninguém reconhece meu grito, o eco não está nessa sala.
Está dentro, bem fundo e perdido, nem a brasa do fogo faz se encontrar.
A azia dissolvendo o meu riso, a última esperança eu lancei e o que peguei de volta no ar foi essa lágrima que pintei.
Descubro no passado, você me abandonou completamente sozinho sem piedade e sem remorso, sequer olhou pra trás. Não significa mais nada, sou uma interrogação que você não quer mais solucionar.
Nada.
Nada.
Nada.
Nada faz voltar.
E eu não tenho mais o que fazer.

18 de abril de 2010

Inverno


E chega o inverno. Tiro velhos casacos do armário, armário novo, casacos velhos. Lembranças bobas, mas eu ainda ouço o eco.
De um pouco de poesia eu tiro minhas ânsias, minhas ânsias por alegria.

Elas não surgem tão fácil, o meu dia-a-dia ficou um fim-por-fim. Na garganta arde a azia que jazia por ti. E eu meto o dedo na garganta pra me livrar enfim.

Já não leio nos gestos o que não consigo dizer, só no espelho eu reconheço alguém indiferente. Não vejo mais ouro brilhar, não há pérolas para quem não as aprecia.

Amarro a fita de cetim em cima do presente fechado. Pra quem entreguei um punho cerrado, entrego o coração armado. Tudo agora está acabado.

E o inverno esfria as noites, tão geladas quanto minha alma.

18 de março de 2010

Áries



Passei pela porta, meio aberta, o som vindo do fundo do quarto, lá de trás da cama, bem longe.

Era uma música, que falava de tristeza e alegria. Verso e prosa latente, contando uma história conhecida. Talhando nota por nota, cosendo ponto por ponto, brotando pétala por pétala aquela conhecida sensação. Arrepio, frio, suor, excitação. O conhecido do desconhecido do que já provei e um dia senti, tão íntimo quanto meu próprio pensar.

Me peguei rindo, me peguei ligando, me peguei brincando com a memória. E livre e leve, a brisa me puxou, me balançou, me sacudiu.

Minha história não está do avesso, não acabou mas já tem final feliz. A cada curva uma nova surpresa, um novo atalho, um outro sorriso.

Motivos teremos, razões buscaremos, na areia desenhando, na poesia acontecendo, no som da dança de cada brincadeira.

Apenas começamos.

17 de março de 2010

Tranquilidade


Finalmente estou de volta.

Sabe as vezes quando você abre a geladeira mas está com alguma coisa nas mãos que não pertence definitivamente à geladeira? Eu me senti assim por um tempo. Muitas vezes.

Você disca o número tão rápido que depois do 2º toque você não lembra pra quem está ligando, já aconteceu? Pois é.

É a mesma coisa de quando você se depara com uma placa, uma calçada ou uma casa nova no caminho que você sempre pega pra ir pro trabalho. Mas há quanto tempo faz isso?

Eu já não tinha noção.

Me encontrei comigo mesmo, tomei aquela breja no bar,batendo papo sem olhar a hora, rindo e abraçando, chorando e gritando, rolando no chão e lembrando da minha própria história.

Me senti o meu pai dando cascudo, me dizendo, me contando e me apoiando. Apesar de ele não estar aqui agora, ele está aqui de qualquer jeito.

Agora entendo o conselho dos mais velhos. Agora entendo os conselhos. Agora entendo.

E com a mesma calma que eu não tive, eu tenho agora, e com a brisa eu comento: eu só quero ver o vendaval passar.

Porque eu já estou pronto pra mais uma.

10 de março de 2010

Blumenau




Eu gosto de escrever. Descobri de novo esse meu jeito, esse meu gesto de expressar coisas que talvez não tenham como ser expressas ou ditas. Mas a gente tenta.
Não sei pra quem escrevo, não sei quem é você que lê, neste momento. Simplesmente quero registrar esse meu sentir, nem que seja somente eu e as paredes azuis do meu quarto.

Pois uma lembrança me assaltou. Veio como um assaltante ao virar a esquina, e eu estava tranquilo ouvindo meus próprios pensamentos quando eles gritaram de repente. E não foi pra dizer: Cuidado!

Há tempos não via essa amiga, essa companheira, essa conhecida: as memórias mais profundas. Eu até estranho o seu formato. A sua sombra. O seu rosto.

O que me lembro é tão vívido, e vem com o frio na barriga. Aquele mesmo frio
que ela me disse certo dia que não sentia mais, que não sabia mais o que era, nem de onde vinha. Associo: será que é de agora ou daquele tempo? Não acho resposta, pra falar a verdade, nem sei se quero encontrá-la.

Vejo tudo de novo. O ônibus escuro, pois já era a noite, e nosso dia juntos havia terminado. O aconchego pedindo espaço no cansaço, a falta batendo papo com a saudade que já despontava. Mesmo que ela ainda estivesse ali, no alcance da minha vista, na plataforma da rodoviária, com seu jeitinho meigo, com sua idade tenra, meio sem jeito. Quando ainda era menina, ainda sonhava e amava, quando ainda era minha. Uma menina que ainda não era mulher. Risonha, cativante, tímida e minha.

O aceno não parava. Como se acenar mais e mais forte fosse segurar o tempo pra que a gente ficasse se vendo por mais um pouquinho. Os olhares ligados, o coração explodindo. Eu sabia que ia demorar muito tempo pra vê-la de novo, eu não queria ir embora. Eu não queria partir, como agora.

As luzes da rodoviária ficando pra trás, sendo a minha vontade do avesso, se distanciando mais rápido enquanto eu queria demorar.Meu olhar vagando a cidade que eu conheci por um dia, em instantes tão marcantes, tão profundos. O que o que sei daquela cidade é o que eu conheço dela. No seu sorriso, no seu andar, no seu lado.

A saudade que me perseguiria nas semanas longíquas, durante as horas no nosso bate-papo, entre os estalos das risadas no telefone, na saudade, na lembrança, na memória.

Lembro que naquele momento eu queria parar o ônibus, mas sabia que não podia. Eu podia me jogar na sua frente, mas ele não ia parar. É como agora, eu quero me jogar na frente, impedi-lo, pará-lo, mas ele vai passar por cima, me destroçar.

Eram 2 horas de viagem, mas os dias já passavam por mim trazendo o peso da saudade.Meu disc man barato e as músicas de amor que me acompanhavam nessa viagem marcante. Poucas viagens que marcaram minha vida. E continua, marcando, dia após dia.

Um dia lindo, um passeio maravilhoso.

Qualquer dia eu visito Blumenau.



UPDATE: corrigi alguns erros e arrumei algumas coisas. Estava emocionado na hora do post.

8 de março de 2010

Por um fio



Nos deitamos mais uma vez, lado a lado, olhando bem de perto, nosso olhar refletindo distância alguma. A voz como um sussurro querendo contar um segredo.

Sua pele ainda está no meu travesseiro, um fio de cabelo seu engasgado em minha garganta, o seu cheiro dormindo abraçado no meu sonho.

Li um livro pra você, li um dia inteiro na sua memória, li uma história pra se repetir.

Inconsciente busquei o toque, inconsciente mostrei sem fazer nada, acordado enquanto sonhava o beijo que surgiu.

A paz só surge quando não tememos mais a guerra. O amor é guerra, é paz e ódio, os extremos de nossas emoções mais íntimas. O prazer que nos condena.

7 de março de 2010

Quase obrigado


Me sinto impelido a escrever.

Quase obrigado.

O que dizer de um dia que acontece e não nos deixa vestígio? Ou mais, de um dia vago que passa veloz, não pela ausência de fatos, mas pela satisfação exagerada que exala?

Pode ser esse o meu domingo. Pode ser essa a minha vida. No olhar, na retina, meu precioso instante.

Te abracei por dentro do inverno, de longos dias distantes que passaram. Te abracei com afeto, sem nenhuma interferência de um rádio cantarolando músicas do nosso passado. Te abracei com carinho, pois ainda lembro dos teus caminhos, e sei onde posso chegar.

Pois quando te vejo e sinto tua voz, mesmo rouca e quase inaudível, eu quero te tocar, eu sinto o desejo, algo me empurra. E eu tenho que te abraçar.

Quase obrigado.

Você me diz que não sente, mas não consegue desviar o olhar.É uma gota inocente de choro, é um risada esganiçada na sua gozação, é um tique nervoso que passa batido. É o gesto e não sua palavra. Eu não preciso mais de palavras. Mas tenho que escrever, preciso, quero.

Quase obrigado.

Eu penso se não é carência, eu racionalizo se não é costume, se o desejo é puro e a vontade plena. E você percebe que há um cisco aí, um cisco safado que não quer sair. Pois eu ainda gosto do gosto do teu beijo e você sente o mel quando prova o meu sabor.
Depois de tudo, você vai embora.

Me deito sozinho,penso sozinho. E por você ter vindo me dar um pouco de sua vida eu preciso te dizer um quase obrigado.

5 de março de 2010

Insônia


Porque amor, porque agora e porque assim? É sem querer, é querendo o não querer ou vivendo do avesso que vou te entender?
Não consigo falar, não consigo dizer, as palavras são anzóis puxando o fio do que resta do meu raciocínio, e mesmo com os pés na mesa e as mãos na cabeça eu não pareço nem sou mais esperto.

Rabisco um pouco a folha em branco. E mesmo lá, tudo branco, fundo branco, cor e letra preta, não está lá.
O que será? Cadê você? O que é você?

Apago a luz, acendo a cabeça,desligo o coração. A brasa queima e arde, a luz expande e o som ecoa. Pulsa, pulsa, quer sair, quer falar e dizer. Mas eu só deixo nas palavras, pode se esconder nos meus dedos, mas não no fundo da alma.

Por favor, não. Daí é sacanagem.

Mostrou um olho, mostrou um dente, um beijo quente e ardente, foi pro papel. Amasso a folha e jogo no lixo, penso no que foi embora, no que foi pro lixo. Mas a dormência no cotovelo continua, ainda não me livrei de nada. Não apaziguei minha calma, não estirei as pernas na cama e dormi à vontade.

Eu posso tentar dizer, eu posso tentar escrever, mas o que sinto não é isso. Quando o coração fala a cidade pára, o destino se apresenta e coloca a chave debaixo do tapete.

Quem é que vai entrar pela porta?

Domingo em casa


No momento de tristeza tudo é uma agulha. Tudo é tremor, e não arrepio.
O uivo do vento já não acaricia, apenas sussurra. A angústia é irmã-prima da felicidade que disse que voltava depois de buscar o café, o mesmo café amargo que me queima a garganta e arranha os ouvidos no gemido das horas.
Ela foi e não prometeu voltar, nem deixar a porta aberta, nem deixar a agenda aberta, nem deixar o telefone livre.

O pior do arrastar das horas não é o tempo gasto, o tempo perdido, o tempo passado, são as marcas no chão. O arrastar das correntes, por carregar coisas pesadas pela sala. Eu tentei mudar a mesa de lugar sozinho, mas o piso marcou. Desculpe, meu bem.

Ainda sinto o cheiro do café pelo quarto.

Pela janela o dia de hoje é igual ao daquele nosso dia, só que água não vem do céu, brota dos meus olhos e escorrem pra debaixo da cama. A cama desarrumada, as cartas amassadas, as memórias atrasadas, o livro de nossos dias.

O sabor amargo, o resto de beijo correndo pela boca, querendo acontecer, e o café que não vou tomar do seu lado.

Ainda olho pra porta e não consigo sair, não saio pra rua,não saio na estrada,não saio na chuva, porque a estrada é longa e fria, por enquanto não quero mais me molhar, não quero sair.

Já sou intruso de mim mesmo, por não saber onde estou.